Um Brasil de misturas

bg_brasil1Em cada região do Brasil existem palavras com significado único e normalmente muito engraçado para nós que não fazemos parte daquele contexto. Algumas vezes as diferenças são tão grandes que quase precisamos de um dicionário. Vejam só imaginem alguém chegando na padaria e pedindo um cacetinho, os gaúchos que estão lendo vão achar normal, eu e o resto do país não vamos entender que o que eles querem na verdade é pão francês. Ou ainda na loja de material de construção alguém pergunta o preço da patente. Eu, na minha santa ignorância, mandaria a pessoa procurar uma loja de uniformes militares, mas no Sul o que se quer saber é o preço do vaso sanitário.

Pegando um avião direto do Sul para o Nordeste vamos ter mais novidades. Saindo da festa alguém lhe pede um bigu. O quê será um bigu, eu diria que não tenho nenhum comigo e seguiria minha vida. Ia ganhar fama de antipática sem sabe o porquê, mas no fundo a culpa foi minha que neguei uma carona ao meu amigo. E a patente do gaúcho em Pernambuco se chama cambrone, algumas vezes pode ser chamado de aparelho. Imaginem a cena, na época da ditadura militar o jovem paulista que luta contra o sistema vai para o Nordeste recrutar pessoas. Para isso decide dar uma festa para conhecer melhor as pessoas:

Nordestino: Acho que vou no seu aparelho.

Jovem : Aparelho!? Não sei nada sobre o assunto.

Logo depois o Nordestino saí e o Jovem chama o Gaúcho e fala: – Cara, fomos descobertos temos que procurar outro lugar. Para quem não sabe era assim que os guerrilheiros chamavam os esconderijos. Muito doido.

Continuando nosso passeio pousamos agora no Norte. Se alguém me pergunta por que você é mão de mucura amassada, eu me recusaria a lhe dar um aperto de mão quando na verdade posso segurar na sua mão a vontade, pois isso não é uma doença contagiosa. A pessoa só quer saber a razão da sovinice. E se te oferecerem um xibé para o almoço e você aceitar, vão lhe servir um prato cheio de farinha de mandioca com água. Fazer o quê, aceitou vai ter que comer!

Descendo para o Cento-oeste vamos ver galinha priscando-se, e não vá pensando que priscar é o mesmo que ciscar ou bicar, sinto-lhe informar que passou bem longe. O que de fato aconteceu foi que a pobre galinha percebeu que vai pra panela no almoço das visitas. Pena que faltou arroz, mas nada como uma visita ao bolicho para resolver o problema. Essa foi fácil, não é? Você deve estar pensado no mercado, e mais uma errou a mercearia é mais perto, além de aceitar um pendura, coisa que o mercado não faz.

Vou agora para o estado que mais gosto de implicar por causa do dialeto: São Paulo. Imagina alguém falando: “Vou subir na guia. Desde quando se sobe em guia? Guia, pra mim, é um livrinho com um mapa da cidade com o nome das ruas ou uma pessoa que anda pela cidade mostrando os pontos turísticos. O paulista acha que o meio-fio é a guia. Tudo bem, meio-fio também soa estranho, mas bordo de calçada é muito pior, não é? E se o paulista fala: Vou chegar naquela mina. Eu pergunto logo: Mina de quê? Ouro? Prata?. Mas o cara quer xavecar a moça. Caramba, tá ficando difícil, não é? Vou traduzir o cara quer paquerar a garota. Vou lançar agora um desafio para vocês paulistas que estão lendo esse texto: quero um pacote de bolachas que contenha a palavra bolacha no lugar de biscoito.

E para terminar quero ver quem sabe me dizer o que meu amigo paulista quer dizer quando falou: O almoço hoje está felpudo. No próximo post eu lhes conto o que é algo felpudo.

~ por carlanascimento em fevereiro 3, 2009.

6 Respostas to “Um Brasil de misturas”

  1. Belo tópico, parábens.

    Este tipo de pensamento patriótico apresentado é uma honra para o Brasil.

  2. pior

  3. legal,gostei dos seus comentários!!!mais sou de sp e não sei o que é “o almoço hoje está felpudo”…mais agora eu te desafio :quero que me fale o que significa ” fiquei no vácuo”.beijos (adoro seus comentários)

  4. Aqui em Curitiba temos uns exemplos bem interessantes.
    Ex.
    Vou pedir pro ‘piá’ comprar duas ‘vinas’ para por no pão, uma dúzia de ‘mimosas’ e pegar o dinheiro dentro do ‘penal’.

    Traduzindo:
    Vou pedir pro ‘garoto’ comprar duas ‘salsichas’ para por no pão, uma dúzia de ‘mixiricas’ e pegar o dinheiro dentro do ‘estojo’ escolar.

    p.s. Por aqui tambem temos o termo bolacha para biscoito.

  5. Que bom! Essa informação foi muito útil.

  6. E um tema muito interesante!

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